Os primeiros contactos com o FADO
Os ensaios poéticos (porque o texto era todo em verso) ou cegadas (como eram conhecidos popularmente) eram representações de rua declamadas e cantadas (estilo opereta), que demoravam seis meses de ensaio e saiam pelo Carnaval, Alfredo ambicionava sair numa a todo o custo, essa paixão leva-o a segui-las por todo o lado e é através delas que tem os primeiros contactos com o Fado e o Teatro. Essas representações viriam a ter a maior influencia na sua forma de cantar
Aos dezassete anos, no ano de 1908, realiza o seu grande sonho, sai na primeira cegada ou ensaio poético (como ele fazia questão de reafirmar) da Autoria de Henrique Lajeosa com o titulo 'O Duque de Guisé', Alfredo fazia o papel de amante do Duque de Guisé (pois naquele tempo não era permitido às mulheres participarem nas cegadas). É na cegada "a Luz e Sapiência", de Henrique Rêgo, que Alfredo teve o maior sucesso e emocionou todos que o ouviram no papel do 'poeta', até aos últimos anos de vida ainda era capaz de declamar o texto não só do seu personagem, como também o dos outros personagens.
Era tradicional as cegadas percorrerem os bairros mais populares de Lisboa e no fim exibirem-se em frente ao Palácio do Marquês da Praia ao Largo do Rato , no final os actores cantavam em coro este verso
É proibido pedir
É proibido aceitar
Mas a Lei não pode proibir
Quem nos queira compensar
Fazia-se depois a colecta que servia para custear as despesas de 'guarda roupa', o Marquês da Praia contribuía sempre com um escudo em prata.
Alfredo Marceneiro afirma que nunca entrou em cegadas, mas sim em
'ensaios poéticos'
Depois das cegadas começou a ir a festas de beneficência, a ouvir e a cantar o fado, onde foi criando nome no meio da rapaziada amiga.
É no Pateo do Carrasco (ao Poço dos Negros) que assiste pela primeira vez em 1906 a um Certamen de Fados onde actuam os mais prestigiados fadistas da época, como o Chico Viana (Vianinha), o Quintinha, o Jorge Cutileiro, o Callafate, o José da Motta etc.
De seguida começa a aparecer nos Retiros como o Basaliza ao fundo da Calçada dos Mestres e o Cachamorra, no 112 da Calçada dos Mestres, ambos em Campolide onde continuou a cantar e foi ganhando nome.
Alfredo Marceneiro descreve quem foram os companheiros, embora mais velhos, que o acarinharam e apoiaram
Mas é no «14» do Largo do Rato» onde se torna mais conhecido. O «14» do Largo do Rato, antes Casino, que o dono após a proibição dos jogos de azar, transformou em Cabaret. É aqui que trava conhecimento com muitos dos poetas populares e fadistas de então, como, o Frederico de Brito (Britinho o poeta chaufer), o Manuel Soares do Intendente, o Júlio Proença Estofador, o João Mulato, o Chico Viana (Vianinha), o Jorge Cadeireiro, o Fernando Teles Alfaiate e Cantador, mais conhecido pelo Petrónio das Elegâncias e muitos mais, gente de trabalho mas peritos no fado, não tardaram em ver no pequeno aprendiz de marceneiro um verdadeiro fadista.