Como surgiu o apelido 'Marceneiro'
O jovem Alfredo andava sempre vestido com bom gosto, de fato, de lacinho ao pescoço e calçando polainites de polimento. Desse seu aspecto elegante nasceu a alcunha de «Alfredo-Lulu», Lulu era equivalente ao «Janota» hoje.
Em meados de 1920, um grupo de fadistas decide organizar no Clube Montanha (mais tarde o 'Ritz Clube'), uma Festa de Homenagem a dois nomes grandes do fado de então, Alfredo Coreeiro e José Bacalhau.
O poeta Manuel Soares, responsável pela organização do evento, não prescindiu de convidar Alfredo para fazer parte do elenco.
No dia em que, juntamente com o guitarrista José Marques, estavam a ultimar os detalhes para a composição dos cartazes de promoção da festa, chegaram à conclusão que ambos desconheciam o apelido de Alfredo. Como acharam que «Lulu» podia ser depreciativo, decidiram por bem mandar imprimir os cartazes anunciando em destaque "ALFREDO MARCENEIRO", visto que esta era a sua profissão.
Os apreciadores do Fado, sentiram uma certa curiosidade em saber quem era aquele Alfredo Marceneiro, o único que não conheciam e assim, rapidamente se esgotou a lotação do Clube Montanha
Alfredo cantou, pondo tal ênfase na sua actuação, que no final foram para ele todas as honras da noite. Dos comentários a esse espectáculo saiu extraordinariamente prestigiado o seu nome.
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E foi assim que Alfredo »Lulu» passou a ser para todos, e para sempre, conhecido por ALFREDO MARCENEIRO.
Mais tarde o poeta Armando Neves dedicou-lhe um poema com o título "O Marceneiro".
Estes versos com música de sua própria autoria Fado CUF, foram o seu "Cartão de Visita" e tema obrigatório nas suas actuações.
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No programa da RTP 'Marceneiro é só fado' de 1969
Alfredo Marceneiro explica como de repente deixou de ser Alfredo Duarte e passou a ser Alfredo Marceneiro, no meio artístico.
O MARCENEIRO
Letra de Armando Neves
Música de Alfredo Marceneiro (Fado CUF)
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Com lídima expressão e voz sentida
Hei-de cumprir no Mundo a minha sorte
Alfredo Marceneiro toda a vida
Para cantar o fado até à morte.
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Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro.
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Este apelido em mim, que pouco valho,
Da minha honestidade é forte indício.
Sou Marceneiro, sim, porque trabalho,
Marceneiro no fado e no ofício.
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Ao fado consagrei a vida inteira
E há muito, por direito de conquista.
Sou fadista, mas à minha maneira,
À maneira melhor de ser fadista.
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E se alguém duvidar crave uma espada
Sem dó numa guitarra para crer,
A alma da guitarra mutilada
Dentro da minha alma há-de gemer.
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Alfredo Marceneiro no seu reportório tem alguns fados simbólicos, este com letra de Armando Neves, musica do 'Fado Cuf' de sua autoria, a cantar em 1976 e com 85 anos, no Palácio do João Ferreira Rosa, acompanhado à guitarra por José Pracana, Fontes Rocha, à viola por Francisco Peres (Paquito) e José Carlos da Maia, como ele explica no principio da interpretação o seu 'cartão de visita' simboliza a sua profissão de 'Marceneiro', que ele orgulhosamente exerceu e com mestria.